Para Lennon
Na porta de um edifício em frente ao Central Park, Nova York (EUA), no dia 08 de
dezembro de 1980, foi morto a tiros o ex-beatles John Lennon (40 anos). Autor
de letras como as de Imagine e Give Peace A Chance, o cantor pregou a paz
cantando e militando mundo afora.
Final de tarde em Uberlândia, dia 23 de maio de 2008. No bairro Tocantins, John
Lenon, um jovem de 18 anos, foi assassinado com seis tiros.
Duas mortes trágicas. A primeira, “quando uma bala partiu de um manso louco”
(Música “Naquela Noite com Yoko”), o autor do assassinato Mark Chapman (um fã)
resolveu dar fim a um ícone mundial. A segunda, quatro homens não identificados
dispararam sobre um jovem indefeso naquele bairro. Em comum, os nomes. Um
serviu de inspiração para nomear outro. Imagino uma homenagem dos pais do
John Lenon uberlandense ao inesquecível Lennon.
Duas realidades e fatos distantes. Contudo, o assassino do primeiro permaneceu no
local com um livro na mão “O Apanhador no Campo de Centeio” de J.D. Salinger.
Os assassinos do segundo Lenon fugiram após o ato.
Na semana passada, o IPEA lançou o Boletim de Políticas Sócias (BPS) –
acompanhamento e análise - nº. 15
[http://www.ipea.gov.br/082/08201002.jsp?ttCD_CHAVE=2910], um
estudo denso de 310 páginas, tendo como foco a juventude. Revela que a
criminalidade juvenil é alarmante. Segundo o BPS, “as pessoas com idade entre 18
e 24 anos foram as mais freqüentemente identificadas como infratores por
homicídio doloso (17,56 ocorrências por 100 mil habitantes), lesões corporais
dolosas (387,74), tentativas de homicídio (22,32), extorsão mediante seqüestro
(0,34), roubo a transeunte (218,23), roubo de veículo (20,24), estupro (14,57) e
posse e uso de drogas (41,96)". Por sua vez, os jovens de 25 e 29 anos
apareceram como os principais infratores para o crime de tráfico de drogas
(24,47).” Uma constatação inexorável: à medida que cresce a criminalidade em
geral, diminui a idade dos autores da violência. E mais, além de infratores, os
jovens brasileiros são as maiores vítimas, uma situação igualmente alarmante: “As
estatísticas mostram que, enquanto as taxas de mortalidade da população
brasileira como um todo vêm decrescendo progressivamente - como tendência de
longo prazo relacionada à melhoria das condições de vida -, tal fenômeno não se
observa com intensidade semelhante no caso do grupo populacional com idade
entre 15 e 29 anos.”.
Que tristeza para todos nós, uma nação próspera, porém repleta de tragédias
sociais. Crianças, jovens e idosos, os mais penalizados. Lamentável, pois, segundo
Pierre Bourdieu (sociólogo francês, 1930-2002), “a juventude é só uma palavra”.
De potencialidade, um recurso formidável, a juventude é escancarada como um
problema (insolúvel?).
Patrícia Loncle, uma pesquisadora francesa faz-nos um alerta: “é a febre da
juventude que mantém o resto do mundo com a temperatura normal”.
Preocupamo-nos, portanto, além do aquecimento global, com a temperatura dos
nossos jovens.
Prof. Eduardo Macedo de Oliveira
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