COBERTURA DO CONGRESSOAs virtudes do vício
Por Alberto Dines
O deputado-corregedor da Câmara Federal está encalacrado: corre o risco de perder o cargo de vice-presidente, perder a legenda e até de perder o mandato recém-iniciado.
Edmar Moreira, do DEM-MG, imaginou que nossa imprensa continua adormecida ou entretida com assuntos mais apaixonantes do que a cobertura do Legislativo. Arrogante e mal informado, Edmar Moreira achou que jamais seria cobrado pelo que dissesse. Não vacilou em afirmar que a função de corregedor deveria ser extinta, que a Câmara não tem poder de polícia e não pode punir transgressões de parlamentares. Ao explicar que os deputados são boa gente, admitiu que têm um único vício, o "vício da amizade".
Caso exemplar
Os jornalistas que cobrem o Congresso perceberam que havia um novo Severino Cavalcanti na Mesa Diretora da Câmara: registraram a estapafúrdia declaração e, na quinta-feira (5/2), O Globo revelou na primeira página a extensão do vício da amizade do deputado Edmar Moreira: um enorme castelo compartilhado com o filho, Leonardo Moreira, deputado estadual, avaliado em 25 milhões de reais mas declarado à Justiça eleitoral pelo valor de 17.500 reais.
Em 18 anos, o deputado só apresentou 14 projetos, menos de um por ano, dois deles favorecendo a privatização dos serviços de segurança em presídios, o que ampliaria substancialmente os seus negócios nesta área.
O caso é exemplar: surgiu no início de uma nova sessão legislativa, no momento em que o Congresso tem as piores avaliações e a escolha dos presidentes das duas casas foi recebida com desagrado.
Nossa imprensa anda desatenta, desnorteada, mas ao revoltar-se contra o "vício da amizade" talvez reencontre a vocação esquecida.
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