Saúde e segurança são prioridades para eleitor
Matéria escrita pelo jornalista Pedro Venceslau e divulgada nesta quinta-feira, 17 de junho, no jornal Brasil Econômico, com entrevista da diretora executiva de atendimento e planejamento do IBOPE Inteligência, Márcia Cavallari
"O homem é a sua circunstância". A máxima do filósofo espanhol Ortega Y Gasset ajuda a entender o que se passa na cabeça do eleitor na hora de definir suas prioridades. Com as ideologias e os partidos desacreditados, as circunstâncias passaram a ser medidas cada vez mais pelas aflições.
Entre 2006 e 2010, o ranking dos problemas que mais afligem a população sofreu uma significativa alteração. A comparação entre os levantamentos do IBOPE nos meses de maio dos respectivos anos mostra que a saúde segue firme na ponta.
Há quatro anos, porém, 49% dos entrevistados citaram essa área com uma das mais problemáticas do pais em uma tabela com várias opções. Este ano, o número caiu para 45%. A mesma pesquisa de 2006 apontou o emprego no segundo lugar, com 43% das citações. Eis a primeira mudança significativa de cenário. Em 2010, foi a segurança pública que apareceu em segundo, com 43%.
Já o emprego caiu para quinto, com 12%. E a educação subiu da sétima para a terceira posição. "Nas eleições de 89, 94 e 98 a saúde estava em segundo lugar. Essa preocupação cresceu muito em 2006 e ainda lidera. Credito isso ao problema de financiamento do SUS. O Brasil tem um sistema teoricamente muito bom, mas com poucos recursos para funcionar. Sem a CPMF esse quadro piorou", avalia o sociólogo Antonio Lavareda. "Na época do Collor a maior preocupação era com a inflação. Depois passou a ser o salário. Em outro momento foi o desemprego. Isso muda dependendo do contexto", diz Marcia Cavallari, diretora executiva do IBOPE.
Estratégia
O diagnóstico é claro. Mas até que ponto o eleitor tende escolher um candidato devido à especialidade política mais próxima da prioridade da vez? Nenhum levantamento mostra, por exemplo, se os preocupados com a saúde preferem um candidato com expertise nessa área.
Entre os sociólogos, as opiniões divergem. "Uma agenda eleitoral com ênfase na saúde nitidamente beneficia José Serra, que foi ministro nessa área. Ele leva vantagem biográfica", opina Lavareda.
"O fato da saúde ser a maior preocupação não significa que isso vai definir a eleição. A conjuntura geral favorece Dilma", arrisca Aldo Fornazieri, cientista político e diretor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Para Priscila Cruz, diretora executiva da ONG "Todos Pela Educação", o eleitor não está só mais preocupado, está mais critico. "O brasileiro está enxergando os problemas. Hoje não basta simplesmente estar na escola, tem de ter qualidadede ensino".